A Igreja Não Tem um Dono Humano: A Pluralidade de Líderes no Governo da Igreja Segundo as Escrituras



A igreja de Jesus Cristo é uma instituição única, santa e estabelecida por Deus para ser a manifestação visível do Seu Reino na terra. No entanto, ao longo da história, muitas comunidades de fé se desviaram do padrão bíblico estabelecido pelos apóstolos e adotaram uma forma de governo centralizada em uma única pessoa — o “dono” da igreja. Essa estrutura piramidal não apenas contradiz o modelo apostólico, mas também compromete a saúde espiritual da igreja local. Neste post, vamos refletir biblicamente sobre a afirmação: a igreja não tem um dono humano, e também mostrar o quanto é errado e perigoso quando há apenas um homem no governo da igreja.


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1. O Dono da Igreja é Cristo

O primeiro ponto fundamental é que Cristo é o único cabeça da igreja. Em Efésios 1:22-23, lemos:

> “E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.”



Jesus Cristo é o Senhor soberano de Sua igreja. Ele a comprou com Seu sangue (Atos 20:28) e a sustenta com Seu Espírito. Não há espaço bíblico para que qualquer ser humano, por mais piedoso que seja, assuma a posição de proprietário, dono, ou autoridade suprema sobre a igreja. Qualquer estrutura que coloque um homem como a autoridade final está, na prática, usurpando a glória de Cristo.


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2. A Igreja é um Corpo, Não uma Empresa

Muitos líderes modernos tratam a igreja como um negócio ou uma marca pessoal. A estrutura eclesiástica se transforma em uma organização empresarial, com o “pastor-presidente” sendo o CEO, os membros sendo clientes e os líderes auxiliares, subordinados que devem seguir ordens inquestionáveis.

Contudo, Paulo nos lembra que a igreja é um corpo:

> “Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular.” (1 Coríntios 12:27)



Neste corpo, ninguém é dono de ninguém. Todos os membros têm funções distintas e trabalham em unidade, com Cristo como cabeça. A metáfora do corpo elimina qualquer ideia de hierarquia absolutista entre os membros. Mesmo os líderes são apenas servos — chamados ao cuidado e à edificação do povo de Deus, não à sua dominação.


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3. A Pluralidade de Presbíteros: Um Modelo Bíblico

O Novo Testamento revela, de forma clara, que as igrejas locais eram governadas por um grupo de presbíteros, e não por um único “pastor”.

Veja Atos 14:23:

> “E, havendo-lhes, por cada igreja, escolhido presbíteros, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.”



Note que Paulo e Barnabé não nomearam “um presbítero” por igreja, mas “presbíteros” — no plural. A igreja saudável tem uma liderança plural.

Outros textos confirmam esse padrão:

Atos 20:17 – Paulo chama os presbíteros da igreja de Éfeso.

Tito 1:5 – Paulo instrui Tito a estabelecer presbíteros em cada cidade.

Filipenses 1:1 – Paulo escreve à igreja de Filipos com os bispos (presbíteros) e diáconos.


A liderança plural protege a igreja de autoritarismo, favorece a prestação de contas e assegura uma administração mais equilibrada, espiritual e bíblica.


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4. O Perigo do Governo Unipessoal

Quando a liderança é centralizada em uma única pessoa, vários perigos surgem:

a) Autoritarismo Espiritual

O líder absoluto tende a se ver como o porta-voz direto de Deus, e qualquer questionamento passa a ser interpretado como rebeldia. Ele se torna intocável, e seus erros não podem ser corrigidos.

b) Manipulação e Controle

A ausência de uma liderança colegiada abre espaço para manipulação emocional, controle espiritual, favoritismo e decisões sem sabedoria bíblica.

c) Falta de Prestação de Contas

Sem outros líderes para supervisioná-lo, o líder unipessoal pode cometer erros graves de doutrina ou de conduta e, ainda assim, continuar no cargo. Isso é terreno fértil para escândalos, abusos e divisão da igreja.

d) Sofrimento Espiritual dos Membros

Os membros acabam sendo oprimidos por uma liderança rígida e personalista. Muitos deixam de crescer espiritualmente, pois são tratados como seguidores do “ungido” e não como discípulos de Cristo.


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5. Exemplos Bíblicos de Liderança Compartilhada

A pluralidade de líderes não é apenas uma norma da igreja apostólica. Mesmo no Antigo Testamento, vemos princípios semelhantes:

Moisés, embora fosse o líder principal de Israel, precisou delegar responsabilidades a outros (Êxodo 18:13-26).

Os anciãos de Israel sempre estiveram presentes como líderes comunitários.

No Novo Testamento, o próprio apóstolo Paulo trabalhava em equipe, sempre com companheiros de ministério como Timóteo, Tito, Silas, Barnabé, entre outros.


Jesus, ao fundar a Sua igreja, chamou doze apóstolos. Ele poderia ter feito tudo sozinho, mas escolheu formar uma equipe de liderança. Isso nos ensina sobre humildade, prestação de contas, comunhão e serviço mútuo.


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6. A Verdadeira Autoridade no Ministério

Líderes na igreja não têm autoridade por causa de títulos, carisma ou tempo de ministério. A verdadeira autoridade vem da Palavra de Deus e do caráter de Cristo refletido no líder. Pedro, um dos apóstolos, nos lembra disso em 1 Pedro 5:1-3:

> “Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles [...] Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.”



A função de um presbítero/pastor é cuidar, não controlar. É servir, não ser servido. É guiar com amor, não governar com medo.


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7. E se a Igreja Já Tem um “Dono”?

Infelizmente, muitas igrejas locais foram estruturadas, desde o início, para depender de um único líder. Muitas vezes, esse líder fundou a igreja, a sustenta financeiramente e é o único que prega. Nessas circunstâncias, mudar a estrutura exige coragem, humildade e compromisso com as Escrituras.

Se você é um líder nessas condições, considere estas ações:

Ore e peça sabedoria ao Senhor.

Forme novos líderes: invista na formação de presbíteros e diáconos bíblicos.

Estabeleça um conselho pastoral plural para dividir a liderança.

Ensine a igreja sobre a liderança bíblica.

Submeta-se à Palavra, mesmo que isso signifique abrir mão de poder e controle.


Se você é membro de uma igreja assim, ore por discernimento. Converse com seu pastor com respeito, mas com firmeza. Procure igrejas com estrutura bíblica, onde há prestação de contas, ensino fiel e cuidado pastoral coletivo.


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8. Os Dons São Distribuídos, Não Centralizados

Em 1 Coríntios 12, Paulo explica que o Espírito Santo dá dons a cada um, como quer. Nenhuma pessoa é suprida com todos os dons. Por isso, a igreja precisa de vários líderes com dons distintos.

Um pode ser mais apto para ensinar. Outro para aconselhar. Outro para evangelizar. Outro para administrar. Quando há pluralidade, o corpo é mais bem servido.

Mas quando tudo está nas mãos de uma só pessoa, ela inevitavelmente falhará — ou por cansaço, ou por orgulho.


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9. A Igreja é de Cristo: Por Isso Deve Seguir Seu Modelo

O argumento final é simples: se a igreja é de Cristo, ela deve funcionar como Cristo ordenou. Não é nosso papel reinventar a estrutura da igreja. Não é nossa função adaptar o modelo da Escritura à cultura empresarial moderna. A igreja deve ser contra-cultural, santa e centrada na Palavra.

Cristo ama a Sua igreja e a governa com justiça, misericórdia e verdade. Os líderes humanos devem apenas refletir esse caráter como mordomos, não como donos.


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Conclusão: A Igreja Precisa Voltar à Liderança Bíblica

Chegamos ao fim deste post com uma exortação amorosa e bíblica: A igreja de Cristo não tem e nunca terá um dono humano. A centralização de autoridade em uma única pessoa é contrária à Palavra de Deus, prejudica o povo de Deus e desonra o Senhor da igreja.

Precisamos retornar ao padrão das Escrituras: igrejas locais governadas por presbíteros piedosos, humildes, responsáveis e plurais. Precisamos de líderes que não busquem glória pessoal, mas que sirvam em temor e amor.

Que cada pastor e membro de igreja entenda que o verdadeiro dono da igreja é Cristo, e que todos os demais são apenas servos. Como disse Paulo:

> “Porque nós não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e a nós mesmos, como vossos servos, por amor de Jesus.” (2 Coríntios 4:5)




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