O Evangelho Customizado: A Religião do Ego



Vivemos na era da personalização. Tudo pode ser moldado ao gosto do consumidor: roupas, alimentação, entretenimento, redes sociais e, infelizmente, até o evangelho. No entanto, o evangelho de Cristo jamais foi uma proposta ajustável à vontade humana. Pelo contrário, ele confronta, quebra, corrige e transforma o homem segundo a vontade de Deus. Ainda assim, multidões seguem diariamente uma versão customizada do evangelho — um falso evangelho que nada tem a ver com o Cristo das Escrituras, mas tudo a ver com a exaltação do ego humano.

Neste artigo, vamos refletir sobre como o evangelho tem sido deturpado para se tornar um produto de consumo espiritual e o quanto isso torna seus adeptos ainda mais distantes da verdadeira salvação. A proposta é clara: desmascarar o falso evangelho da autoajuda e apresentar o verdadeiro Cristo que chama ao arrependimento, à cruz e à renúncia.

1. O Evangelho da Autoimagem: Um Cristo Refletido no Espelho

O chamado "evangelho customizado" nasce da necessidade carnal de muitos cristãos modernos de ouvirem aquilo que lhes agrada. É um evangelho que não incomoda, não exige arrependimento, não confronta o pecado e, acima de tudo, não coloca Deus no centro. Ao invés disso, é um cristianismo moldado para satisfazer as expectativas pessoais do ser humano.

A Escritura já previa essa tendência. Em 2 Timóteo 4:3, Paulo adverte:

> “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências.”

Esse tempo chegou. Pregadores são escolhidos não por sua fidelidade à Bíblia, mas pela sua capacidade de alimentar o ego das pessoas. Cultos se tornaram sessões de motivação emocional, onde o pecado é ignorado e a cruz é vista como um detalhe incômodo.

2. A Religião da Realização Pessoal

O evangelho customizado gira em torno da realização pessoal. As promessas de Deus são distorcidas para servirem aos caprichos humanos. Prosperidade, sucesso, felicidade plena e saúde inabalável se tornaram os pilares desse cristianismo que nada tem de bíblico.

Mas o verdadeiro evangelho não é uma promessa de vida fácil. Pelo contrário, Jesus afirmou:

> “No mundo tereis aflições...” (João 16:33)

A mensagem do evangelho autêntico é uma chamada à negação do eu:

> “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Marcos 8:34)

O evangelho da realização pessoal é incompatível com a cruz. Ele apresenta um Jesus servil, quase um mordomo espiritual pronto para atender desejos. É um Cristo que cumpre o papel de gênio da lâmpada: você esfrega com a fé e Ele realiza seus sonhos. Isso não é evangelho. Isso é paganismo com linguagem cristã.

3. Um Cristo sem Cruz: o Antievangelho

O evangelho customizado retira da mensagem de Cristo a sua essência: a cruz. Ela se torna um símbolo estético, decorativo, mas não teológico. Fala-se muito em bênçãos, mas quase nada em arrependimento. Fala-se de portas abertas, mas omite-se o caminho estreito. Exalta-se o amor de Deus, mas ignora-se Sua santidade e justiça.

O Cristo do evangelho verdadeiro veio para salvar pecadores (1 Timóteo 1:15), não para massagear egos. Ele morreu para que os homens fossem reconciliados com Deus, não para que se sentissem bem consigo mesmos.

Sem cruz, não há evangelho. Sem arrependimento, não há salvação. Sem santidade, ninguém verá o Senhor (Hebreus 12:14). O evangelho customizado omite tudo isso, e por isso é maldito.

> “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.” (Gálatas 1:8)

4. A Fábrica do Ego: Cultos Personalizados

As igrejas que adotam esse evangelho customizado ajustam seus cultos para se parecerem com eventos sociais, shows de entretenimento ou palestras motivacionais. Louvores são compostos para alimentar a autoestima, sermões são escritos para agradar a audiência, e orações são feitas para atrair bênçãos, não para glorificar a Deus.

Onde está o temor do Senhor? Onde estão os clamores por santidade? Onde estão os joelhos dobrados em arrependimento?

O evangelho não existe para glorificar o homem. Ele existe para glorificar a Deus.
Qualquer culto onde Deus não é o centro se torna idolatria — ainda que use o nome de Jesus.

5. A Igreja como Plataforma de Ego

A consequência desse falso evangelho é uma geração de cristãos que usam a igreja como trampolim para seus próprios projetos. O púlpito se tornou vitrine, e o altar, um palco. Ministérios são disputados como cargos políticos, e o chamado de Deus é confundido com oportunidades pessoais.

O evangelho customizado gera líderes que buscam seguidores, e não servos que buscam a cruz. Gera cristãos exigentes, consumidores insaciáveis, mas não discípulos.

6. Por que Isso É Condenável?

Porque é um insulto à cruz. Porque transforma a mensagem de Deus em mercadoria. Porque falsifica a fé. Porque conduz as pessoas à condenação, enquanto lhes promete salvação.

Jesus disse:

> “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mateus 7:21)

Aqueles que seguem esse evangelho customizado podem até parecer religiosos, falar sobre Deus e participar da igreja, mas estão longe da vontade do Pai. Estão criando um caminho de fé sem Cristo, e por isso seguem para a perdição.

7. O Chamado ao Arrependimento

A única saída é a volta ao evangelho puro. A igreja precisa pregar novamente a cruz, a santidade, a justiça de Deus, o arrependimento, a graça e o senhorio de Cristo. Não há salvação sem confrontação do pecado. Não há vida nova sem renúncia da velha.

Jesus não veio para fazer você se sentir melhor — Ele veio para te dar vida eterna, ainda que isso custe sua reputação, seu conforto ou até sua própria vida.

A igreja precisa clamar como Isaías:

> “Ai de mim, que vou perecendo!” (Isaías 6:5)
Antes de levantar as mãos para receber bênçãos, precisamos dobrar os joelhos para confessar pecados.

8. Um Evangelho Incomodo, Mas Verdadeiro

O evangelho de Jesus nunca foi popular. Ele sempre incomodou os religiosos, os poderosos e os carnais. Ele nos leva ao deserto, não ao palácio. Nos leva à cruz, não ao trono humano. Nos mata para que possamos viver.

Paulo disse:

> “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” (1 Coríntios 2:2)



Esse é o verdadeiro evangelho. Um evangelho que crucifica o ego, que confronta o pecado, que leva à humilhação diante de Deus, mas que, ao final, gera vida, paz e reconciliação.

9. O Evangelho que Salva

Se você percebe que tem seguido uma versão customizada do evangelho, saiba que ainda há tempo para se voltar ao verdadeiro Cristo. Arrependa-se. Rejeite o evangelho da conveniência. Busque o Cristo da Bíblia. Ele não promete riquezas ou fama, mas oferece o maior tesouro: a reconciliação com Deus.

> “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” (Marcos 8:35)

Conclusão

O evangelho não foi feito para ser customizado, mas obedecido. Ele é a revelação de Deus, não um produto da imaginação humana. Não podemos moldá-lo à nossa imagem, pois fomos criados para sermos moldados à imagem de Cristo. O evangelho que salva é o evangelho da cruz — duro para os orgulhosos, mas doce para os arrependidos.

Que o Espírito Santo nos conduza ao verdadeiro evangelho, para que não sejamos condenados por seguirmos um Cristo falso, mas salvos por nos submetermos ao Senhor verdadeiro.

“Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé.” (2 Coríntios 13:5)


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