Quando o nome de Cristo é usado para promover outro evangelho
Vivemos um tempo de confusão espiritual generalizada. Igrejas cheias, templos luxuosos, linguagem religiosa em toda parte, mas pouca reverência, pouca doutrina e, pior, pouca verdade. O neopentecostalismo se apresenta como cristianismo, mas, à luz das Escrituras e da fé reformada, trata-se de um sistema que muitas vezes prega uma fé distorcida, antropocêntrica e antibíblica, enganando milhares de pessoas sinceras com um falso evangelho.
O que é o neopentecostalismo?
O neopentecostalismo é uma vertente mais recente dentro do movimento pentecostal, surgido principalmente no Brasil a partir da década de 1970, com o crescimento de igrejas como a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Mundial, Internacional da Graça, entre outras. Diferente do pentecostalismo clássico, o neopentecostalismo introduziu novas ênfases, como:
Teologia da prosperidade: Deus quer te enriquecer financeiramente.
Confissão positiva: Suas palavras têm poder criador.
Batalha espiritual exagerada: Todo mal é fruto direto de demônios territoriais.
Rituais místicos: Correntes, campanhas, objetos ungidos, “atos proféticos”.
Culto centrado no homem: A mensagem gira em torno das necessidades do indivíduo.
Essas ênfases não são meras estratégias — elas representam uma ruptura com o verdadeiro evangelho bíblico.
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1. Um evangelho centrado no homem, não em Deus
A base da fé reformada é clara: tudo existe para a glória de Deus (Soli Deo Gloria). A salvação é obra de Deus, para exaltar Seu nome, não o do homem. No entanto, no neopentecostalismo, Deus se torna um meio para a realização dos desejos humanos. O culto gira em torno de bênçãos materiais, cura, sucesso, portas abertas e realizações pessoais.
O evangelho bíblico nos chama à renúncia, arrependimento e obediência (Mc 8.34-35). Ele não promete uma vida sem dor, mas uma cruz a ser carregada. A fé verdadeira é uma confiança humilde em Cristo, não um mecanismo para alcançar vitórias temporais.
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2. Um “deus” que serve o homem
No neopentecostalismo, Deus frequentemente é retratado como um “sócio”, um “parceiro” que precisa ser ativado por ofertas, campanhas ou declarações. Isso é uma deturpação grave. O Deus da Bíblia é soberano, autoexistente, imutável e independente (Sl 115.3; Is 46.10). Ele não depende do homem. Pelo contrário, é o homem que depende completamente d’Ele para tudo — inclusive para crer.
Esse falso deus do neopentecostalismo responde a comandos humanos, é forçado a agir por “decretos” e precisa “honrar” campanhas. Isso não é fé cristã — é idolatria com roupagem evangélica.
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3. Falsa fé baseada em sentimentos e experiências
Outra marca da falsa fé neopentecostal é sua ênfase nas experiências místicas e emocionais em detrimento da doutrina bíblica sólida. Cultos voltados à emoção, visões, “revelações” e manifestações espirituais substituem o ensino fiel das Escrituras.
Mas a fé verdadeira vem pelo ouvir da Palavra de Deus (Rm 10.17), e não por sensações subjetivas. A fé reformada sustenta que a Escritura é suficiente, clara, autoritativa e necessária. Qualquer movimento que desloca a centralidade da Palavra abre espaço para engano.
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4. Um evangelho sem cruz e sem arrependimento
Talvez o aspecto mais trágico do neopentecostalismo seja a ausência de arrependimento genuíno. O pecado é relativizado, raramente pregado com seriedade. O foco está em “tomar posse da bênção”, não em se render a Cristo em obediência. Não se prega a santidade, nem a mortificação do pecado, nem o novo nascimento como obra soberana do Espírito.
O resultado é um cristianismo falso: pessoas que frequentam cultos, cantam louvores, mas nunca nasceram de novo. Jesus advertiu: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor... e eu lhes direi: Nunca vos conheci” (Mt 7.21-23). O falso evangelho produz falsa segurança, e essa é uma das maiores tragédias da fé neopentecostal.
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5. A salvação vira negócio
No centro do neopentecostalismo está a teologia da prosperidade, que transforma a salvação em mercadoria. A fé é trocada por prosperidade; o dízimo e as ofertas se tornam pagamentos por bênçãos. As Escrituras são distorcidas para legitimar a ideia de que “quem dá, recebe mais” e “quem não prospera, está em pecado ou sem fé”.
Essa teologia contradiz frontalmente o evangelho de Cristo, que nos chama a contentamento, generosidade, sofrimento por amor ao nome de Jesus e confiança no cuidado soberano de Deus, mesmo quando a resposta for “não” ou o caminho for árduo.
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6. A negação da soberania de Deus
Por trás da teologia da confissão positiva, há uma visão distorcida da soberania de Deus. Ensina-se que o homem pode decretar, determinar, liberar palavras proféticas que obrigam Deus a agir. Isso não é fé — é manipulação espiritual.
A fé reformada reconhece que Deus é soberano em todas as coisas: Ele é quem escolhe, chama, salva, conduz, disciplina e glorifica Seu povo (Rm 8.29-30). Nós não controlamos Deus com palavras ou atitudes; nós nos rendemos a Ele com reverência e temor.
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A resposta da fé reformada
A fé reformada responde com clareza:
O verdadeiro evangelho é centrado em Cristo e na cruz.
A salvação é pela graça, não por campanhas, objetos ou méritos.
A Palavra de Deus é suficiente; não precisamos de revelações novas.
Deus é soberano, e não servo dos desejos humanos.
A igreja existe para a glória de Deus, não para o sucesso pessoal.
É necessário alertar com amor e firmeza: o neopentecostalismo não representa o evangelho bíblico. Muitos que estão presos a esse sistema precisam ser alcançados com a verdade libertadora da Palavra de Deus. Por isso, precisamos pregar, ensinar, escrever e viver com fidelidade, para que o reino de Cristo cresça, e os reinos dos homens caiam.
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Conclusão
A falsa fé neopentecostal é sedutora, mas mortal. Ela promete céu na terra, mas esconde o inferno. Promete vitórias, mas nega a cruz. Fala de Deus, mas serve ao homem. Por isso, devemos erguer nossas vozes em defesa do evangelho puro e simples: aquele que proclama Cristo crucificado, ressurreto, exaltado e suficiente para salvar totalmente os que se achegam a Ele pela fé (Hb 7.25).
Que Deus nos dê coragem para denunciar o falso, compaixão para alcançar os enganados e fidelidade para exaltar somente a verdade que liberta.
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” – João 8.32
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